16.08.2020

não quero oferecer uma esperança inócua
e animar, fugaz, uma fração da bolha
mas quero falar da frase da laurie anderson:
"sentir-se triste, mas não estar triste"
e sobre como ela consola e apazigua
o mito da tristeza permanente e insolúvel
a nós aparentemente acometida
senti-la apenas, sem sê-la
como a melancolia sinistra de walter benjamin
um salto para dentro da época
- época triste, sim, tristíssima -
e senti-lo é dever, conflagração, necessidade
mas saber que não se o é empurra
tristeza gravitacional, ímã do avesso,
bate no chão e volta para o teto,
talvez o fure (o teto)
e no horizonte ainda quase invisível do porvir
ameace a obscuridão